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CHOCOLATE PARA A ALMA – LER NÃO ENGORDA

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25
Mai10

ENTREVISTA COM VIKAS SWARUP NO DIÁRIO DE NOTÍCIAS

Rita Mello

 

Vikas Swarup é escritor e cônsul-geral da Índia em Osaka, no Japão. Quem Quer Ser Bilionário? foi o seu livro de estreia. O sucesso  da versão cinematográfica levou-o para o palco dos Óscares de Hollywood e virou-lhe a vida  do avesso. Deixou a Índia há mais de uma década, por exigência do trabalho diplomático, mas é na escrita que regressa sempre ao país de origem. Agora com Seis Suspeitos.


Passou da ficção de Quem Quer Ser Bilionário? para uma história baseada em factos reais. Porquê?

O segundo livro também é ficção, mas o ponto de partida é emprestado da vida real. Vicky Rai, que é assassinado, é culpado de três crimes: quanto tinha 17 anos atropelou seis pessoas com o seu BMW, mas é absolvido. Aos 20, mata dois antílopes-negros numa reserva do Rajastão e é absolvido, com 25 está numa festa, pede uma bebida à empregada às duas da manhã, ela recusa, ele mata-a e sai impune. Estes crimes aconteceram realmente na Índia, usei-os porque escrevo como um insider para os indianos: atribuí os crimes a Vicky Rai para que o leitor saiba imediatamente que ele merecia morrer.

Descrevia o primeiro livro como uma história de esperança e sobrevivência. Este é diferente?

Sim, em Quem Quer Ser Bilionário? o mundo é mais a preto e branco, em Seis Suspeitos é cinzento. O primeiro tinha uma mensagem de esperança e optimismo, mas o segundo pode ser considerado uma celebração da democracia. A democracia não significa que tenhamos uma sociedade perfeita, sem crime ou corrupção, mas a sua essência é a responsabilização: se os crimes forem expostos, há punição.

Mas o homicídio de Vicky Rai não é uma punição democrática.

Não vivemos num mundo ideal, às vezes a justiça poética pode vir na forma de morte violenta. Não estou a justificar este tipo de acções, até porque eu escrevo ficção. Criei personagens maiores do que a vida, suficientemente interessantes para que o leitor queira seguir o que lhes acontece. É verdade que através da minha ficção se pode ter um vislumbre da Índia, mas não se pense que esta a é a única visão do país.

Interessava-lhe mais fazer a anatomia de um crime ou descrever a sociedade indiana?

É a anatomia de uma sociedade, através da anatomia de um homicídio. Se tivesse escrito um policial tradicional, como Agatha Christie ou Stanley Gardner, o homicídio tornava-se importante do ponto de vista forense, mas eu estou interessado no homicídio do ponto de vista sociológico: porque é que esta pessoa foi assassinada, de que crimes era culpada, quem seriam os seus inimigos? Quis oferecer um olhar sobre a sociedade indiana, em que o crime e a corrupção acontecem.

Através dos seis suspeitos, quis dar seis perspectivas diferentes da Índia?

Exactamente. Mas para ter uma visão precisa da Índia seriam necessárias talvez seis mil perspectivas diferentes, e ainda assim seriam limitadas.

Nota um interesse crescente na cultura indiana?

Absolutamente, no século XXI, o poder já não é do país com o maior exército, é daquele que tem o maior "poder suave". O termo foi cunhado por Joseph Nye e diz respeito à atracção de um país, e se antes a América liderava com Hollywood, McDonald's ou Coca-Cola, hoje a Índia tem Bollywood, a cozinha, o ioga, ayurveda, budismo... Há um interesse renovado na Índia porque finalmente conseguimos afirmar-nos como poder económico.

Seis Suspeitos também vai ser adaptado ao cinema. O que há nos seus livros que é tão apelativo para o grande ecrã?

Fiquei muito surpreendido quando quiseram comprar os direitos do Seis Suspeitos, assim como tinha ficado com o Quem Quer Ser Bilionário?. Na altura pensei que o filme ia ser realizado por um indiano, em hindi, nunca me ocorreu que uma companhia do Ocidente o quisesse fazer. Há autores que escrevem com um olho no ecrã, mas eu não o faço. Se quisesse que este livro se tornasse filme, nunca teria escrito uma história de mistério, são as mais difíceis de filmar. E estou muito curioso como resultado, porque é uma história mais complexa, tem nuances que um realizador ocidental poderia não compreender.

 

(Entrevista conduzida por Bárbara Cruz e publicada no Diário de Notícias no dia 23 de Maio de 2010)

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