O pai de Roopa Farooki, autora de Agridoce, foi um mentiroso compulsivo e foi condenado diversas vezes por crimes de colarinho-branco, mas, ao menos, não era uma pessoa aborrecida. Em baixo, deixo-vos com a primeira parte de um artigo de Roopa Farooki publicado no The Guardian, em que a autora revela como foi crescer com um pai digno de uma personagem de um romance.
“Então, Roopa, o que a inspirou?” Era uma pergunta bastante óbvio e, por isso, eu devia estar preparada para ela. Estava sentada num gabinete abafado naquela que seria em dentro em breve a minha editora. Tinha deixado o meu bebé com três semanas com o pai e uma garrafa com leite materno, e como a King’s Cross estava fechada, fora obrigada a vir a pé desde Euston no pico do sol. À chegada, tive de ouvir com espanto uma sala cheia de pessoas que trabalham em edição a dizer o quanto adoraram o meu primeiro romance, que é sobre três gerações de uma família de Bengali cujas relações são definidas e comprometidas pela mentira. E depois chegou a pergunta óbvia. Eu sabia a resposta e, apesar de querer vontade de mentir, estava demasiado aturdida para inventar algo de convincente em tão curto espaço de tempo. Por isso, disse a verdade.
Expliquei que o meu interesse pessoal no impacto dos enganos nas famílias – todos aqueles factos incómodos que são varridos para debaixo do tapete e ignorados em nome do bem comum, todas aquelas mentiras imaginativas que usamos para a nossa comodidade e para esconder coisas – se devia ao meu pai, um charmoso e incurável vigarista que achava que dizer a verdade era aborrecido, uma vez que era pouco imaginativo. O facto de outras pessoas dizerem a verdade levou-o à prisão em mais do que uma ocasião e em mais do que um país. Ele continuou a fazer isso quando já era um sessentão com idade para ter juízo. A última que me lembro dele foi quando vendeu a alguém um barco em Paris – o que não é nenhum crime, só que o barco não era dele.