LILI LA TIGRESSE – A CRÍTICA DA LER
Lili é uma mulher de peso, voluptuosa e voraz, excessiva
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Lili é uma mulher de peso, voluptuosa e voraz, excessiva
Patrícia Elias
A beleza e a dignidade de só agradar a quem se deseja. A disposição e o tempo para se deleitar com um momento de pausa ou para analisar perspicazmente o que nos rodeia. Uma propensão para deambular após o ocaso. Que animal poderia ser senão um gato?
Vanessa Casais
Se eu fosse um animal seria um caracol e viveria nas madeixas de cabelo do meu amor!
Nuno Gonçalves
Seria um ser humano! Porque de outra forma não poderia ler e não existe maior liberdade do que viajarmos na nossa imaginação...
Se pudesse ser um animal, qual seria?
Responda com criatividade a esta questão enviando um e-mail para joanneharris@sapo.pt e habilite-se a um dos três exemplares de Lili la Tigresse que a ASA tem para lhe oferecer.
Com um suspiro de tristeza separo-me dos maravilhosos odores o banho e embrulho-me numa toalha áspera de tão limpa. O meu corpo absorve o contacto e volta a ser inundado pelo desejo de outro contacto, quente, humano. Um contacto que penetraria no sangue através dos poros da pele, uma pele agora livre do pó e do suor, mais receptiva à corrente cósmica do desejo e às suas vibrações veiculadas pela poluição urbana. Ninush está atrasada, naturalmente, e vou ter de prescindir dos seus bons conselhos na escolha do vestido.
O meu corpo opulento transborda como o de uma antiga deusa da fertilidade. Tenho de recuar um passo para que todas as minhas curvas se reflictam no espelho estreito do armário. Afasto a ferroada de dor – as palavras de Amikam naquela noite fatal em que me anunciou ter decidido cancelar o nosso casamento e despedir-se de mim para sempre.
Até hoje me envergonho ao lembrar-me de como chorei e rastejei aos pés dele pelos ladrilhos do apartamento que o kibutz pusera à sua disposição, entre as paredes cobertas de máscaras africanas e de tapetes afegãos e as estantes cheias de livros da editora Am Oved, de estatuetas de marfim e cinzeiros feitos com as mãos embalsamadas de infelizes gorilas. Gemi promessas de dietas, de operações para encurtar os intestinos, de banda gástrica, de obstrução dos maxilares e então talvez, sim, talvez então ele concordasse em esperar, e ele acenava com a cabeça, «Talvez, Lili, talvez então», embora ambos soubéssemos que a natureza do meu corpo era tal que recusaria qualquer intervenção externa e que não havia jejum capaz de o libertar das suas dimensões, como se, no seu interior, algo secreto, sombrio, aspirasse sempre a tornar-se maior e mais largo, e se erguesse obstinadamente contra todas as minhas tentativas para o reduzir.
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É irresistível a protagonista de Lili
Lili é uma grande personagem: intensa, complexa e a transbordar de vida. Porque escolheu uma personagem gorda?
Porque ser-se gorda representa, para a mulher, o máximo da vulnerabilidade. Uma mulher gorda como ela é sensível, hiperemocional, extra-sensual, escrava de desejos masoquistas. É uma hedonista cheia de vergonha, incapaz de corresponder aos requisitos mínimos da civilização, que impõe o sublime e disfarça todos os de instintos. Em Telavive, as mulheres também passam por maus bocados. Há uma grande dissonância no meu país em relação à imagem da mulher israelita, dura e quase agressiva – a mulher-soldado, a feminista ocidental transplantada para o Oriente primitivo –, e a sua essência mais autêntica: uma cidadã de segunda classe num Estado, Israel, com a pretensão de pertencer ao Ocidente. A obsessão permanente da sobrevivência e, desse modo, a importância que é dada à segurança e à política externa não permitem a Israel investir energia e recursos nas minorias, mulheres incluídas.
A cena de sexo entre Taro e Lili é bastante anticonvencional, algo muito raro quando se escreve sobre sexo.
Sou uma grande apoiante do distanciamento quando escrevo. E isso é ainda mais importante numa cena de sexo, que não é uma confissão pessoal. Assim posso ser precisa, verdadeira, original, mantendo no entanto o controlo total. Essa cena é o meu presente para o leitor, e é ele quem deve identificar-se, envolver-se e excitar-se, e não eu, que escrevo.
Como teve a ideia do tigre bebé?
Fui muito influenciada pelos livros de Angela Carter, pelo seu modo de inserir o fantástico numa narração realista, que não é uma prerrogativa exclusiva do realismo mágico sul-americano. Também eu procuro fundir esse mundo fantástico e exuberante na realidade quotidiana israelita. Veio-me agora à mente uma história que se passou há alguns anos, quando o Circo Medrano ofereceu tigres bebés, causando um grande escândalo.
(Artigo da autoria de Monica Capuani publicado na D –
Lili é uma mulher extremamente emocional e assustadoramente sensível.
Lili é uma mulher exuberante, intensa e excessiva.
Lili pesa 112 quilos e vive sozinha desde que o seu noivo, assustado com semelhante peso, anulou o casamento à última hora.
Ninush é magra mas igualmente infeliz, condição para a qual o seu namorado – Léon – contribui activamente. O ciumento Léon, que enriqueceu graças à invenção de collants eléctricos contra a celulite, está decidido a proteger Ninush de tudo e todos… nem que para tal tenha de usar métodos musculados.
Estas duas solitárias tornam-se inseparáveis. Ou melhor, quase inseparáveis. Numa noite em que Léon proíbe Ninush de sair de casa, Lili decide ir sozinha ao circo. Atónita, descobre que o domador de feras é nada mais nada menos do que Taro, o japonês que lhe tirou a virgindade na casa de banho de um Boeing 737. Taro está de regresso ao Japão, mas antes de partir oferece-lhe algo surpreendente: um tigre bebé. Face a um mundo desconhecido, selvagem e ancestral, a vida de Lili e de todos quantos a rodeiam vai mudar para sempre.
Excêntrico e extravagante, Lili la Tigresse impõe Alona Kimhi na cena literária internacional como uma das mais originais escritoras da sua geração.
“Lili la Tigresse é o novo romance da israelita Alona Kimhi (Edições Asa, que já tinham lançado Susana em Lágrimas, uma história imperdível). Kimhi é um perigo: escreve bem, é belíssima e gosta de Portugal. E o livro merece.”
Alona Kimhi nasceu em Lvov, na Ucrânia, em 1966 e emigrou para Israel com a família quando tinha seis anos. Estudou Teatro e trabalhou como actriz, jornalista, argumentista, dramaturga e encenadora. Susana em Lágrimas, o seu primeiro romance, foi um bestseller mundial, tendo sido publicado pela ASA e galardoado com o Prémio Bernstein para o melhor romance de Israel em 1999 e o Prémio WIZO em 2002. Alona Kimhi venceu ainda o Prémio do Primeiro-Ministro de Israel em 2001.
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