PARA AGUÇAR O APETITE...
A VERDADE DOS FACTOS
Coluna de Arun Advani, 25 de Março
SEIS ARMAS E UM CRIME
Nem todas as mortes são iguais. Mesmo no crime, existe um sistema de castas. A morte à facada de um miserável condutor de riquexó não passa de uma estatística, enterrada nas páginas interiores do jornal. Mas o assassínio de uma celebridade torna-se instantaneamente assunto de primeira página. Porque os ricos e famosos raramente são assassinados. Vivem vidas de cinco estrelas e, a não ser que morram de uma overdose de cocaína ou de um acidente insólito, têm normalmente uma morte de cinco estrelas numa boa idade avançada, tendo entretanto aumentado tanto a estirpe como a fortuna.
É por esta razão que o homicídio de Vivek «Vicky» Rai, de trinta e dois anos, proprietário do Grupo de Indústrias Rai e filho do ministro do Interior de Uttar Pradesh, tem dominado as notícias nos últimos dois dias.
Durante a minha longa e atribulada carreira de jornalista de investigação, realizei um grande número de denúncias, desde corrupção nas altas esferas a pesticidas em garrafas de Coca-Cola. As minhas revelações fizeram cair governos e fecharam multinacionais. Nesse processo, assisti de perto à ganância, à maldade e à depravação humanas. Mas nada me revoltou mais do que a saga de Vicky Rai. Ele era a figura de cartaz da corrupção neste país. Durante mais de uma década, acompanhei a sua vida e os seus crimes, como uma traça irresistivelmente atraída pela chama. Era um fascínio mórbido, semelhante ao de ver um filme de terror. Sabemos que vai ser revelado algo de terrível, por isso ficamos electrizados, presos à cadeira, à espera do inevitável. Recebi avisos sinistros e ameaças de morte. Fizeram-se tentativas para conseguir o meu despedimento deste jornal. Sobrevivi. Vicky Rai não.
Podem continuar a ler o primeiro capítulo de Seis Suspeitos, de Vikas Swarup, aqui.