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Querida Daisy,
Sempre gostei de ter a última palavra, não gostei? Aqui sentada a escrever isto, preparando-me para o guardar na caixa com todas as recordações que juntei para ti ao longo dos anos, espero sinceramente que os médicos possam estar enganados no seu diagnóstico e que daqui a alguns anos possamos remexer as duas na caixa e rir-nos do que contém.
Mas, se não puder partilhar esse momento contigo, espero que ela te conforte pois foi criada com muito amor e as minhas pequenas notas, ainda que embaraçosas para mim agora, provam o que eu sentia nesse tempo.
Não há criança que tenha sido mais amada do que tu. A pura felicidade que eu e o teu pai sentimos quando nos foste entregue ainda hoje, depois destes anos todos, me causa um nó na garganta. Essa felicidade foi quase certamente a razão por que, cinco anos mais tarde, consegui conceber os gémeos quando nos tinham dito que seria impossível.
Encheste as nossas vidas de felicidade, depois de muitos anos de decepção, e sempre tivemos um grande orgulho em ti. Não te afastes dos gémeos porque os laços de uma infância comum são tão fortes como os laços de sangue. Desejo-te tanta alegria e felicidade na tua vida como eu tive na minha e a única tristeza que experimento é não estar viva para conhecer os meus netos. O cheque que junto é uma parte do dinheiro que me foi deixado pelo meu pai. Também ele morreu sem conhecer os netos que esperava vir a ter e o facto de ter guardado algum para dividir contigo, com a Lucy e com o Tom foi uma forma de lhe prestar tributo. Por isso, minha querida, gasta-o com prudência. Uma despedida final não é momento para sermões e já tos dei em abundância no passado. Agora, tudo o que posso dizer é que te amo e que estarei a velar por ti.
Com todo o meu amor,
Mamã
Leia os primeiros capítulos de Procuro-te, de Lesley Pearse, aqui.